NÃO HÁ NADA PARA SATISFAZER OS ANTI-CATÓLICOS

TORONTO – Esta peregrinação penitencial do Sumo Pontífice, Papa Francisco, é, para mim, um exemplo clássico de um evento alicerçado no conceito de querer “fazer o que é certo”. Manifesta-se na paciência suprema de um homem de idade avançada, sofrendo pessoalmente dores físicas, assumindo o peso dos danos (reais e associados) da responsabilidade de outros  elementos da Igreja e numa época  com a qual não tinha nenhum vínculo pessoal. 

Com a ocupação no cargo (cadeira de S.Pedro) vem a responsabilidade: a quem muito é dado, muito é exigido. Além disso, a equipa do Corriere Canadese tem feito um trabalho extraordinário para refletir sobre o acontecimento, de acordo com essa ética.

Fiquei igualmente impressionado com a maioria da liderança na comunidade aborígene e indígena. Sua serenidade tranquila e “performance de classe” atraem crédito para suas vozes.

Refiro-me  pessoalmente a alguns com quem interagi no passado, Willie Littlechild e Phil Fontaine. Claro que há outros, mas estes pareceram-me “estadistas” (um termo de gênero neutro, com todo o respeito para com outra ex-colega, a Hon. Ethel Blondin) que trabalharam para a realização do evento e não querem desvalorizar a sua importância com comentários banais escondidos na retórica “mas não é suficiente”.

Esse nível baixo é melhor deixar para os tipos de mídia que se alimentam de dissensão e negatividade. Eles são especialistas na abordagem “troca tintas” e “encenação” para relatar, mesmo sobre assuntos socioculturais sérios, como os que fundamentaram esta Peregrinação Penitencial, e para menosprezar os esforços das pessoas envolvidas.

No caso em questão, você se interroga. Quantos leitores já ouviram falar das bulas papais? Eu já me tinha esquecido delas ,logo após os meus estudos da História da Europa Medieval e do Renascimento. Nessa altura eu era um jovem ansioso para apontar o dedo e encontrar falhas – mesmo onde elas não eram evidentes.

Na época o Rt. Honorável Paul Martin (o melhor primeiro-ministro do Canadá, pois ele nomeou-me para o Gabinete) após a sua retirada do governo,  perguntou-me o que eu pensava das bulas. Não muito,respondi,- “elas não foram abolidas em [1537]?”

Para completar, fiz uma observação superficial de que elas (bulas) pretendiam ser um contributo de ‘manutenção da paz’ ​​entre as potências europeias. Dado que os europeus não eram alheios a estuprar, queimar e pilhar como instrumentos ou consequências da guerra, reconhecer a ‘autoridade moral’ de uma terceira Instituição (a Igreja Universal) parecia ser um passo gigante em frente – um pouco como colocar a confiança na Assembleia Geral das Nações Unidas hoje.

Infelizmente, acrescentei, não durou muito. A Reforma Protestante, as riquezas descobertas noutros lugares (como as Américas) e os avanços na tecnologia de guerra logo puseram fim a essas pretensões.

Agora, algumas “mentes brilhantes” querem levantar a questão uma vez mais, exigindo que este Papa revogue o que já foi revogado há quase 500 anos. Na minha humilde opinião, parece mais o querer  dar oxigênio ao flagrante anti-catolicismo do movimento de contracultura estabelecido, do que um desejo genuíno e sincero de contribuir para a Penitência e Reconciliação que a peregrinação do Pontífice pretende gerar. Os bispos que alimentam essa narrativa deveriam ficar envergonhados por levantar o assunto.

(artigo de Joe Volpe, tradução Carlos Lima, photo Vatican Media)